Psicologia. Um farol no labirinto da mente

A noção de psicológico tem variado ao longo dos tempos e isso trouxe desafios ao paradigma da intervenção psicológica. O foco foi desviado da ideia de doença mental para a ideia de saúde mental.

3 MAI 2024 · Leitura: min.
Psicologia. Um farol no labirinto da mente

Durante muitos séculos a noção de psicológico era vaga e estava intimamente ligada a noções mágico-religiosas; a doença mental estava associada a aspetos transcendentes (divindades e espíritos), por isso qualquer ideia ainda que longínqua ou ambígua de tratamento dirigia-se especificamente a quem sofria de doença. Deste modo, a intervenção incidia preferencialmente na cura das perturbações caracteriais, neuróticas ou psicossomáticas. Houve uma evolução para uma perspectiva de saúde em que o que se torna relevante e central como objeto de intervenção é a busca ativa de estados de maior equilíbrio e bem-estar.Considera-se pois, a partir de uma certa altura, que a intervenção psicológica deixou de ser apenas um tratamento das perturbações mentais e passou a ser vista como métodos (no plural, sim porque há vários) de trabalho sobre si mesmo, como desenvolvimento pessoal, como uma forma de lidar com as situações difíceis da vida quotidiana, como uma metodologia para garantir uma melhor qualidade de vida, um maior bem-estar, quando não mesmo um dos caminhos possíveis, e eventualmente mais acessíveis, para uma desejada felicidade.

Tal com é referido pelo World health report em 2001 (pag.62) as psicoterapias são "intervenções planificadas e estruturadas que têm como objetivo influir sobre o comportamento, o humor e padrões emocionais de reação a diversos estímulos. Através de meios psicológicos quer sejam verbais quer sejam não verbais".

Este processo funciona porque existe uma relação de confiança construída, apesar de assimétrica assente no facto do psicólogo não fazer parte do quadro relacional habitual; centrada no paciente e com um racional teórico sobre si mesmo e sobre o mundo que tende necessariamente a melhorar a congruência, a autoestima e a relação com os outros.

A intervenção tem como alvo o sujeito psicológico, as suas dimensões afetivas, cognitivas e comportamentais, supõe meios de tratamento de cariz psicológico, quer dizer não recorre a qualquer tipo de produto bioquímico ou biológico. Neste sentido, consideram-se que são os pacientes os principais responsáveis pelas mudanças que desejam que ocorram nas suas vidas.

A intervenção terapêutica decorre num ambiente que deve ser sentido como um lugar seguro (independentemente de ser presencial ou à distância). Nesse ambiente, ao qual damos o nome de espaço terapêutico, cria-se uma relação entre o paciente e o psicólogo e lá, cabe tudo, mesmo tudo: cabem medos, cabem sonhos, cabem inseguranças, cabem tristezas, cabem mudanças, cabem recuos, cabem dúvidas, cabem conquistas. Cabe o paciente inteiro!

A transformação que ocorre em cada paciente é lenta e paulatina, não tem um timing definido. As mudanças sentidas são primeiro internas: mudam os pensamentos (menos pessimistas, menos catastróficos), mudam as emoções (as mais dolorosas dão lugar a outras mais adaptativas), são feitas novas descobertas sobre si próprio (dá-se um fenómeno de aceitação de si e do outro tal como ele é e não como gostaria que fosse). Depois, só depois muda o comportamento visível, nota-se outra serenidade, uma certa capacidade de tomar decisões e de viver com as consequências dessas escolhas, um posicionamento mais adaptado face aos outros, uma certa noção de limites, enfim uma transformação significativa no bem estar .

A intervenção psicológica está fundamentada na ciência - a Psicologia (uma ciência com evidência) - engloba diversas abordagens adaptadas às necessidades individuais recorrendo a pesquisas e evidências rigorosas. É mais do que simples tratamento, é um farol para aqueles que navegam, muitas vezes sem norte no labirinto da mente e do comportamento humano.

Referências:

Bandura, A. (1969). Principles of Behavior Modification. New York: Holt, Rinehart and Winston.

Dewald, P. (1988). Psicoterapia: Uma Abordagem Dinâmica. Porto Alegre: Artes Médicas.

Leal, I. (2018). Psicoterapias. Lisboa: Pactor.

Rogers, C. (2023). Tornar-se Pessoa - A terapia pelos olhos do terapeuta. Lisboa: Talento.

Você quer seguir lendo?

Muito fácil! Acesso gratuito a todos os conteúdos da nossa plataforma com artigos escritos por profissionais da psicologia

Ao continuar com o Google, aceita as nossas Condições de uso e Política de Protecção de Dados.


PUBLICIDADE

Escrito por

Joana Melo da Silva

Ver perfil
Deixe o seu comentário

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE